Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho
Uma característica marcante presente na maioria dos poemas de Bandeira é a narração de fatos cotidianos de maneira simples,por meio de uma observação participativa, detalhista e doídamente instrospectiva,como forma de trazer o leitor para uma reflexão de temas que são caros para a sociedade,a exemplo da vida e da morte.Quando é dito no poema Momento Num Café - "E saudava a matéria liberta para sempre da alma extinta",ele diz que a vida é efêmera,como quem pronuncia com fervor a dimensão metáfisíca do fato.
Já no poema A Mário de Andrade Ausente, gosto quando ele diz: Alguém perguntará em que estou pensando/Sorrirei sem dizer que em você/ Profundamente.Isso é realmente religiosamente profundo.
Não poderia deixar de citar o Poema do Beco que apesar de tão poucas palavras nos remete a refletir sobre a ótica do olhar humano e,é claro, a efemeridade da vida.
A poesia de Bandeira, longe de ser uma pequena canção terna de melancolia, está inscrita em um drama que conjuga sua história pessoal e o conflito estilístico vivido pelos poetas de sua época.
Momento Num Café
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto longo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
Esaudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
***
A Mário de Andrade ausente
Anunciaram que você morreu.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:
A alma profunda, não.
Por isso não sinto agora a sua falta.
Sei bem que ela virá
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.
(Pela força persuasiva do tempo).
Virá súbito um dia,
Inadvertida para os demais.
Por exemplo assim:
À mesa conversarão de uma coisa e outra.
Uma palavra lançada à toa
Baterá na franja dos lutos de sangue.
Alguém perguntará em que estou pensando,
Sorrirei sem dizer que em você
Profundamente.
Mas agora não sinto a sua falta.
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
(É sempre assim quando o ausente
Partiu sem se despedir:
Você não se despediu.)
Você não morreu: ausentou-se.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Direi: Faz tempo que ele não escreve.
Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel.
Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.
A vida é uma só. A sua continua
Na vida que você viveu.
Por isso não sinto agora a sua falta.
***
Poema do Beco
- O que eu vejo é o beco.